Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 1970

Banana agora tem griffe !

Imagem
Quando eu era menino, a gente morava em um edícula nos fundos da casa de minha avó. Assim como meus tios e tias, mamãe também havia trabalhado na Tecelagem Textilia, na Av. Celso Garcia e, mesmo tendo deixado o trabalho para dedicar-se a este velho pimpolho que acabara de nascer, nossa família continuava sendo privilegiada com a Cooperativa dos Funcionários da Textília… mesmo depois de vários anos. Comprávamos nossos mantimentos através de uma lista enviada previamente e que, alguns dias depois, eram entregues em casa por um funcionário da Textília, que, por acaso (rs), também era parente: tio Henrique (irmão de vovó). Dentre os mantimentos, vinham os cereais sempre pesados à granel. Certa vez, o arroz havia terminado antes do fim do mês e vovó mandou comprar 1 quilo e meio, lá na venda do Seu José e da Dona Tereza. Feliz da vida, fui eu o incumbido de tal tarefa…. feliz, claro, porque iria sobrar algum para o doce de abóbora. Além disso, eu gostava de ver aqueles sacões de juta cheios...

Nonno Luigi - 1968

Imagem
Nascimento de meus Filhos por Luigi Marcatti 1909 Em 27 de Outubro, data Ligeiro... ligeiro....ele sempre dizia ao atravessar a rua Padre Adelino  ou a linha do trem.  Leggero, leve.... ele queria que eu voasse.  Mal sabia nonno Luigi  que estava aos poucos inoculando  em minha alma  uma amor eterno à sua Italia.  Da qual nunca falamos. E precisava? gloriosa e de maravilha Nasceu Maria de Lourdes, A minha primeira filha 1912 Em 23 de Janeiro Ao despertar da brisa, brilharam astros no céu E apareceu Maria Luiza 1916 Em primeiro de Janeiro O tempo não consome Nasceu Antonio Marcatti Neto O meu primeiro homem 1917 Em 6 de Outubro Mês de alegria Nasceu Erothides, mês do Rosário de Maria 1919 Em 23 de Outubro Data jamais esquecida Nasceu minha filha Irma Para alegria de minha vida 1922 Em dois de março está na memória Nasceu minha filha Elza, foi uma grande vitória 1927 Em 21 de março O sol é belo e brilha Com mais este presente Nasceu minha filha Cecília ...

O Carrinho e o Computador

Imagem
Era uma vez um menino, que como a maioria dos meninos da época, transformava qualquer coisa em brinquedos e sonhos. Com a ajuda de um tio, então !!, alguns pedaços de madeira transformavam-se em um autêntico  cadillac (o carrão de luxo da época). O jardim da casa dos avós,, então, tornava-se um autêntico bosque, em que joaninhas e pequenos insetos viravam fadas e gnomos. Não lhe faltava nada pra extrair realidade de seus sonhos. Hoje, este menino, já com muitos anos de idade,  não consegue ver beleza nestas geringonças tecnológicas. Ele as usa, mas fica fulo da vida quando alguma coisa dá errado e ele não consegue resolver. Tem que baixar programas, limpar memória, atualizar software, reiniciar a máquina, acionar anti-virus e, se tudo continuar dando errado, finalmente comprar um modelo mais novo de computador ou celular..... Consertar aquele carrinho de madeira era muito mais fácil....  E os sonhos, então.............ESSES CORRIAM SOLTOS, como em qualquer mundo de crianç...

Um concurso muito insólito- 1960

Imagem
Parece que certas coisas nunca mudam. Soltar pum, por exemplo, sempre foi motivo de graça para a molecada. Os meninos são mestres nessas coisas. Os garotos daqueles tempos também. Aliás, também tínhamos nossos heróis japoneses. National Kid voava sobre Tóquio e sempre detonava os monstros vilões ao final do filme. Outro dia, revi um trecho da série: Nachionaro Kito realmente não era nenhum ás… Kito voava muito mal. Outros tempos. No começo dos anos 60, computador era palavrão. O que se diria então destes bichos tecnológicos modernos, com suas HDs, Drives, Scans e Mouses ? Bem, voando mal ou não, ele era nosso herói japonês. Bairro de operários e pequenos comerciantes, o Tatuapé parecia uma dessas pequenas cidades interioranas. Quando alguém precisava ir á Praça da Sé, no Centro, dizia: eu vou à cidade.Roy Rogers / National Kid / Rintintin e Cabo Rusty / Marcelino Pão e Vinho / Vigilante Rodoviário / O Menino do Circo Como se vivêssemos em outro local que não na própria cidade de São Pa...

O apito da autoridade- 1959

Imagem
Não me lembro como ele se chamava, mas todos os meninos sabíamos seu nome. Silvio.. vou escolher Silvio…. acho que Guarda Silvio vai bem. Todos os dias o Guarda Silvio estava lá, cuidando dos alunos que precisavam atravessar a rua Tuiutí ao voltar para casa. Sempre impecável em seu uniforme azul marinho, respeitável, ele exibia um altivo quepe decorado com o brazão da Guarda Civil. Sua arma: um apito. com o qual fazia parar o trânsito (que trânsito ?!), para que a garotada pudesse atravessar. Ah, quanto eu desejei atravessar aquela rua sob a proteção do Guarda Silvio. Desses desejos que não se conta porque talvez só se perceba muito tempo depois. Eu e vô Luigi, não precisávamos atravessar a rua. Seguíamos pela mesma calçada do Educandário Espírito Santo…. em direção à linha do trem da Central. Na travessia dos trilhos não havia guarda. Apenas o sino, a luz e a cancela… e a mão do nonno. aldo della monica

Feliz Natal, pobre diabo ! - 1958

Imagem
Pobre diabo ! Você se lembra de quando você esperava ansiosamente pela volta de seu pai,que fora pagar a prestação das Casas Pirani e, sempre que voltava, trazia um pacotinho daqueles balinhas que só se vendia lá? E você, agora, buscando a felicidade na conta corrente...Pobre diabo ! Casas Pirani - Brás  Lembra da véspera do Natal na casa do Vô Luigi ? Aposto que não se lembra dos brinquedos que ganhou. Mas sabe perfeitamente da emoção de saber que os primos e os tios viriam todos para o almoço natalino. E depois, jogos de tômbola. Cinquina, dois patinhos na lagoa.... Pobre diabo. Seu valor está lá na raiz, meu querido. Você poderá comprar tudo se ganhar dinheiro. Mas sempre haverá algo mais pra ser comprado. Você poderia poupar tudo. Mas sempre haverá muito mais pra ser poupado. Afinal já disseram que os números são infinitos. Os cifrões também são infinitos. Os grandes banqueiros sabem disso. Morreram a apodrecem na terra sem ter juntado tudo o que gostariam, posto que os números...

A varanda - 1958

Imagem
Aquela varanda de imensidão na infância foi meu universo nas viagens interespaciais foi meu campo de futebol de gude e de pião cantinho de tristeza outras…canto de alegria canção dos meninos, às vezes de um bom soninho. De receber a imagem da santa Eu e minha alpargatas em frente à varanda pra que toda a vizinhança viesse orar ave-marias Aquela varanda que me viu em gatinhos e, também, primeiros passos que me acolheu contrariado que me acolheu no esconde esconde meu universo de tão grande imensa varanda Varanda, de tantas princesas Esquecida, virou passagem da rua pra dentro de dentro pra rua Por onde passaram — derradeira passagem - a vó e o vô queridos, cada qual a seu tempo, dizendo adeus. Pequenina, aquela varanda, permaneceu Até que um dia com sua cerâmica tão gasta com o murinho que precisa ser pintado ressurge gigante Foi alí, meus sonhos gigantes Como éramos gigantes, eu e a varanda aldo della monica 9 de outubro de 2013 às 12:48 Ouça Gente Humilde com Quarteto em Cy

O exército de Freiras e o Menininho

Imagem
Historinha que ouví aos 8 anos de idade contada pela freira do Educandário na aula de Religião, lá pelo ano de 1960 VEJAM O NIVEL DE COMPROMETIMENTO DA IGREJA COM O PODER ESTABELECIDO. A LAVAGEM CEREBRAL DOS PEQUENOS ALUNOS DE UM EDUCANDÁRIO ERA ESTUPIDAMENTE AGRESSIVA E SEM PUDORES. SOB O MANTO DO MEDO ESTIMULADO PELOS EUA, A IRMÃ TEVE A CORAGEM DE ATERRORIZAR OS GAROTINHOS DE ENTÃO, COM ESTA HISTÓRIA FANTASIOSA: Nem sabíamos onde ficava Cuba, muito menos o que significava uma foice junto a um martelo. A Irmã, certamente orientada pelos padres da Igreja Cristo Rei, contou-nos uma singela histórinha infantil: Era uma vez um menino muito católico que vivia rezando e amava falar a palavra Deus.Deus ! Deus ! Deus !… dizia o menininho enquanto fechava os olhos ou olhava para o céu. Tudo estava bem na terra do menininho até que um dia, vieram os comunistas. Ao perceber aquele menininho que vivia falando Deus, Deus,… um soldado comunista chegou perto dele e ordenou: - Pare de falar a palavr...

Cada um de nós é sua própria Árvore de Natal - 1952

Imagem
Quando nasci , também tive meu Natal.Faz tempo ! Uma árvore novinha me esperava. Seus enfeites:Meus jovens pais – bem mais jovens do que sou agora ...Meus avós – mais jovens do que eu agora...Tios, tias.Primos que já tinham tido seu Natal. Uma árvore linda com enfeites, que foram ganhando seu significado a cada dia vivido.A cada ano, novos enfeites, amigos do parquinho municipal,colegas do primário no Educandário Espírito Santo....amigos da rua Bom Sucesso, no Tatuapé. Mais tarde, a turminha do Ascendino Reis. Papai Noel e sua árvore, era apenas em dezembro. No presentinho que meu querido pai podia comprar.Ao lado do presépio, de que meu nonno religioso jamais abriu mão ….e a tão esperada reunião de família. Mas minha árvore de Natal sempre foi aquela de todos os dias.tantas novas estrelas vieram enfeitá-la, a cada dia. Outras estrelas que foram perdendo seu brilho e se tornando saudade. Vieram tempestades de dúvidas e lutas. Bonanças de aconchego e conquistas. Minha árvore permane...

A mãe do farmacêutico -1956

Imagem
Pouco antes de seguir viagem, quando sua cabeça branquinha ainda permitia as histórias do passado de maneira muito bem organizadas, mamãe me contava um momento que contracenei com o Seu Toninho. O caminho que nos levava da saída do Educandário até a linha do trem tinha uns trezentos metros. Naquela primeira parte do trajeto ficavam os marcos de nossa principal rua daqueles tempos.. Após vencer algumas casas, a primeira referência era a farmácia. O cheiro que se sentia ao passar por alí ainda persiste: alguma coisa entre água oxigenada e mercúrio. E alí, eternamente atrás do balcão, o Seu Toninho… opa… é injustiça, dizer que Seu Toninho jamais saira dalí. De vez em quando ele saia sim ! Contava minha mãe que, em uma ocasião, lá pelos meus três anos de idade, Seu Toninho estranhamente apareceu no portão de minha casa. Estava com aquele seu uniforme branco e uma caixinha metálica nas mãos. O faro do menino não tardou a se manifestar. Saí correndo para o lugar mais seguro da casa: embaixo ...

Maestro Della Monica - 1935

Imagem
...Era verdade. Lá vinham os bravos artistas da "Pérola", chefiados pelo Maestro Alfonso Della Monica. Abriram lugar para eles e serviram-nos, sem demora. Meia hora depois, já de barriga cheia, os músicos começavam a afinar os instrumentos..." Maestro Alfonso Della Monica (do livro Belenzinho, 1910 de Jacob Penteado, Maestro e violoncelista, Alfonso Della Monica liderava o grupo musical conhecido por Orquestra da Pérola. Juntamente com seus filhos e sobrinhos apresentava-se com sucesso em festas e bailes do início do século XX na região do Braz, Tatuapé, Belenzinho. Italiano de nascimento, imigrou para o Brasil em 1876, aos 23 anos de idade. ANARQUISTAS NO BELÉNZINHO Sobre a fala de Alfonso durante uma palestra de um ideólogo italiano no Clube da Pérola no Belenzinho: "... após um inflamado discurso do Prof. Edmondo Rossoni sobre a necessária tomada do poder pelas classes obreiras, um velhinho magro, de baixa estatura, com seu inseparável cachimbo de cano comprido à...